Reconfiguração das cadeias globais de comércio pode beneficiar setores estratégicos da economia brasileira e abrir novas frentes de exportação
A nova escalada tarifária promovida pelos Estados Unidos contra produtos chineses reacende as tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo e provoca uma reorganização das cadeias globais de fornecimento. Em meio ao cenário de incerteza, o Brasil surge como um potencial beneficiário indireto da disputa, com oportunidades concretas de expansão no comércio internacional.
Com tarifas que ultrapassam os 100% em setores estratégicos da indústria chinesa, como aço, tecnologia e automóveis elétricos, a medida norte-americana tende a restringir a competitividade dos produtos chineses nos Estados Unidos e em outros mercados-alvo. O redesenho das rotas comerciais que se segue abre espaço para países emergentes que reúnem capacidade produtiva, segurança jurídica e acordos bilaterais em expansão.
O Brasil, neste contexto, reúne condições favoráveis em diversas frentes. A indústria agropecuária é uma das principais candidatas a ampliar seu protagonismo, sobretudo no atendimento à demanda chinesa por alimentos, tradicionalmente sensível a oscilações geopolíticas. Com estrutura consolidada, altos níveis de produtividade e histórico de fornecimento à Ásia, o setor pode ampliar sua fatia de mercado diante da fragilidade momentânea na relação entre EUA e China.
Outro vetor de crescimento potencial está na substituição parcial de produtos chineses no próprio mercado norte-americano. Com a imposição de tarifas, itens como calçados, têxteis, cosméticos e bens intermediários podem perder competitividade, abrindo espaço para exportadores brasileiros interessados em ampliar presença no mercado dos EUA. A diversificação da pauta exportadora e a adaptação a exigências técnicas e regulatórias tornam-se elementos centrais nesse processo.
No entanto, o cenário também impõe riscos. A indústria chinesa, ao buscar novos destinos para sua produção excedente, pode direcionar seus produtos a mercados alternativos, inclusive ao Brasil, pressionando os fabricantes locais com preços mais baixos. A resposta estratégica exige maior eficiência das empresas brasileiras, bem como investimentos em qualidade, diferenciação e acesso ao crédito.
Programas de apoio à internacionalização, capacitação empresarial e certificação técnica são apontados como instrumentos fundamentais para que micro, pequenas e médias empresas brasileiras aproveitem o momento. A competitividade internacional requer planejamento logístico, estudo de mercado e adaptação às exigências legais e culturais dos países de destino.
Além disso, a instabilidade do cenário político e econômico global exige cautela e monitoramento contínuo. A manutenção ou reversão das tarifas norte-americanas dependerá dos desdobramentos internos nos Estados Unidos, bem como da reação da China nas mesas de negociação multilaterais.
Setores como alimentos processados, moda, beleza, móveis, tecnologia verde e serviços especializados aparecem como promissores no médio prazo, desde que as empresas estejam preparadas para operar com foco em produtividade, inovação e gestão de riscos.
O momento é considerado estratégico para o Brasil ampliar sua inserção nas cadeias globais de valor. Com planejamento, adaptação e suporte institucional, o país pode converter a crise geopolítica entre EUA e China em uma oportunidade concreta de crescimento e fortalecimento comercial internacional.